PANORAMA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

PANORAMA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, POR ELSIE HOUSTON

 

No mesmo ano em que estreava em disco na França, em 1928 Elsie Houston foi convidada para apresentar um estudo sobre música brasileira no I Congresso de Artes Populares em Praga, promovido pelo Instituto de Cooperação Intelectual da Liga das Nações. Embora não tenha participado do congresso, seu artigo “La musique, la danse et les cérémonies populaires du Brésil” foi publicado nos Anais do Congresso em 1931. Entre musicólogos como Mário de Andrade, Luciano Gallet e Renato de Almeida que também teriam enviado material para o evento, a apresentação de Elsie foi a única selecionada para representar as artes populares do Brasil (TONI 2016).

O artigo, em que comenta sobre os gêneros musicais e danças do Brasil, foi traduzido para o português e publicado em 1933 no jornal anti-fascista O Homem Livre, fundado por Mário Pedrosa (cunhado de Elsie) e Geraldo Ferraz (que se tornaria marido da amiga Pagu). Interessada nos jeitos de cantar e rimar dos cantadores e cantadoras do Brasil, Elsie sabia que era impossível engaiolar na partitura as sutilezas inventivas da nossa música: “O melhor é ter isso no sangue”, dizia.

Na serie de artigos “Panorama da Música Popular Brasileira”, Elsie Houston busca identificar as origens indígenas, portuguesas e africanas da música popular brasileira, e antecipa o que será publicado anos mais tarde no livro “Chants Populaires du Brésil”, de 1930. Em linguagem “para francês entender” ela descreve gêneros musicais como a modinha, o coco, a embolada (rouler en boule), a chula, os lundus, jongos, cateretês, e o choro,  destacando aspectos típicos da nossa música como a síncopa e o improviso. Elsie também apresenta as chamadas “danças dramáticas” de festividades como o bumba-meu-boi, a congada, os pastoris e a nau catarineta. Ao final do artigo, Elsie Houston também dedica boa parte do seu pensamento à “Makumba” e a “Capoeiragem”, tentando estabelecer conexões entre orixás e entidades do catolicismo, e entre o legitimado samba e os proibidos batuques e capoeiras, denunciando a violenta repressão policial à essas práticas. A musicóloga encerra o texto deixando um apelo para que se passe a conhecer as musicalidades do nordeste do país, ampliando os horizontes da musicologia para além do samba e da modinha cariocas.

 

 

Reproduzimos aqui, a série de artigos em que o jornal O HOMEM LIVRE divulgou a tradução de “La musique, la danse et les cérémonies populaires du Brésil”, que Elsie teria apresentado para o Congresso de Artes Populares em Praga de 1928. Os artigos foram publicados nos dias 1, 14 e 22 de agosto de 1933.

 

 

 

 

 

 

22.08.1933

 

 

Para chegar mais perto:

BERTEVELLI, Isabel C. Dias. Elsie Houston (1902-1943), cantora e pesquisadora brasileira. Dissertação Mestre em Artes. Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São Paulo, 2000.

HOUSTON-PÉRET, Elsie. Chants Populaires du Brésil. Paris: Librairie Orientaliste Paul Geuthner, 1930.

HOUSTON, Elsie. Art populaire : travaux artistiques et scientifiques du 1er Congrès international des arts populaires, Prague, 1928, Paris, Éd. Duchartre, 1931.

TONI. Flávia Camargo.  A música brasileira e a cooperação intelectual no Congresso de Arte Popular em Praga 1928. Debates – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música 17, 2016.